segunda-feira, 29 de setembro de 2008

FRAGILIDADE

a gente fez o fragilidade com 18 anos. filmamos tudo num fim de semana. o felipe e a carol pratagonizavam e a thais era codjuvante além de fazer a continuidade. o ivo (que ainda não era fotógrafo) foi o nosso assistente. foi um set divertido e tranquilo apesar da correria contra o tempo. o pedro editou com a gente.

agradecemos em muito, todos.

é engraçado rever essas imagens, pois percebo como que de fato o que estava em jogo não era tanto o aprender a fazer cinema e sim aprender a ver e entender cinema. nesse sentido é um cinema de espectador e não de diretor. até hoje é mais ou menos assim, apesar de agora dirigirmos filmes de fato. só há pouco tempo que nos interessamos mais seriamente com a realização técnica e isso fica bem evidente nos nossos filmes mais antigos que não se importavam em serem toscos, sendo essa uma das razões para poucos gostarem deles (mas isso não tem importância, esses filmes realmente não são para serem gostados). esses filmes são estudos. era a nossa forma de ter certeza de que estávamos entendo os filmes a que assistíamos. é claro que sempre ficava a sensação de que não tínhamos entendido porra nenhuma. mas aos poucos estamos aprendendo e podemos dizer tranquilamente que hoje entendemos bem mais o nosso trabalho.

enfim, um filme como estudo teórico, cinefílico. tem os seus momentos.

vinvenders e aprendenders!

coloco junto com os filmes os cineastas em que pensávamos para cada cena (devo estar esquecendo alguns). dá pra ver a loucura que se passava pelas nossas cabeças rs.


(cinema experimental americano, principalmente warhol e brakhage)





(brian de palma)

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

TRÊS FINAIS

FRAGILIDADE (LOU REED)





UM HOMEM SEM MULHER (ANNETTE PEACOCK)





DIAS EM BRANCO (EBERHARD WEBER)


terça-feira, 9 de setembro de 2008

Leo Marona nos revela

essa parte do filme diz muito sobre a nossa forma de fazer filmes e a forma do leo escrever. existe uma posição ética na relação da vida com a arte que talvez venha do nosso amor (eu, luiz e leo) por bukowski e céline e que nessa cena é muito bem colocada na colocação da câmera, no texto, no improviso, na auto-reflexividade e na aposta em uma criação coletiva (todas as cenas do filme foram criações conjuntas, mas essa cena deixa isso bem claro). leo pra mim é um puta ator! a música no começo é uma composição do john cage e é uma das coisas mais lindas que eu já escutei (tinha me esquecido dela não sei como).

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

mais um sobre dias em branco

esse texto o ikeda escreveu pro blog dele.

O Branco em Filme

Dias em Branco
de Irmãos Pretti
DVD,

Há um filme do Arthur Omar chamado Congo, que ele próprio denominou como “um filme em branco”. Em branco, pois o que podemos saber sobre os congos, o que um documentário pode nos fornecer de informação sobre uma manifestação cultural de nós tão distante, quase perdida?

“Dias em Branco” parte mais ou menos da mesma premissa: é um filme em branco. Mas há uma pequena diferença, sutil, mas que faz toda a diferença: um dia “em branco” é muito diferente de um “não-dia”. O “em branco” é sinal de construção. “Não sei o que fazer. Fico o dia todo olhando para a parede branca de meu quarto. Eu poderia filmar essa parede, já que a conheço bem.”. Ou seja, i) a parede em branco significa que existe uma parede; ii) a parede não é motivo simplesmente de paralisia, mas motiva a ação de filmar essa parede.

A partir desse dado simples, os irmãos pretti desenvolveram um trabalho em continuidade com todos os seus temas (a solidão, o rigor da estrutura, os tempos mortos, a duração) mas absolutamente transformador. Através de uma narrativa paralela mas que não necessariamente se cruza, Dias em Branco é um retrato íntimo de um deslocamento mas sem esbarrar na psicologia ou nas motivações de personagens. Acima de tudo, as pessoas são (isto é, antes de ser branca, a parede existe). Por isso, por trás de um cinema de inércia, da imobilidade e do desconsolo, existe um desejo que pulsa abaixo da superfície, um cinema que busca um caminho de construção por trás do cansaço. Existe uma comunhão implícita entre os personagens, mesmo que eles não se encontrem. Uma proposta de cinema moderna, que tangencia os instigantes trabalhos de problematização da dramaturgia como os de Claire Denis e os filmes de reavaliação das potencialidades do cinema (e das pessoas) poder em expressar seus sentimentos, como os filmes orientais. Na liberdade da câmera, na sutileza dos contornos narrativos, pela liberdade da dramaturgia, pela força de estrutura, não seria exagero dizer que se Dias em Branco não é o melhor filme dos meninos (o que talvez até seja), é o que mais aponta para novas perspectivas e potenciais na filmografia dos diretores.

Marcelo Ikeda

ÁLVARO DANÇANDO

umas das cenas mais bonitas que já filmamos.


quinta-feira, 4 de setembro de 2008

mais um texto sobre dias em branco

esse texto quem escreveu foi o jõao. eu gosto muito do texto. acho que principalmente pelo fato dele não ser crítico de cinema. é uma outra visão.

Dias em Branco

Quando, dizendo “nada”, diz-se muito.

“I have nothing to say / and I am saying it / and that is poetry / as I nedeed it”. Resume-se aí o argumento central do último filme dos irmãos Pretti, “Dias em branco”, neste poema de John Cage, apresentado em tela preta ainda no início da película, corrijo-me, vídeo. V-Í-D-E-O, sim. Pois o meio assume uma ênfase quase “guerrilheira” para essa fértil dupla que já ultrapassa a marca dos vinte e seis filmes realizados, desafiando os impedimentos materiais que asfixiam a sétima arte no Brasil. Não estou a par de toda a sua produção, mas se pelo menos um quarto for de qualidade comparável a este último, desbancam qualquer diretor brasileiro da atualidade e muitos dos já consagrados.



Abro aqui um rápido parêntesis para tratar da dificuldade de criticar um trabalho do qual participei diretamente – como se posicionar criticamente em relação a algo em cuja execução se está envolvido pessoalmente? Poderia enveredar pelo caminho da informalidade ou do diálogo “artístico”. No entanto, decidi-me pela crítica teórica mesmo, rejeitando qualquer pretensão à neutralidade, que, de qualquer forma, é sempre uma quimera, afinal, o sujeito não pode nunca se “desligar”. Dessa forma, atenho-me, também, às minhas concepções estéticas, apoiadas, como estão, na crença de que não existe arte sem o discurso sobre arte; que ambos se mesclam, indissociavelmente, num mesmo domínio comum, e que o próprio discurso teórico é também arte. Portanto, teorizo sim, mas com muita “arte”.



“O que enquadrar?”, pergunta uma das personagens, lendo um texto escrito por um dos diretores (Ricardo). A pergunta ganha ares de exercício metalingüístico no desenrolar do trabalho. O que fica explícito numa das cenas finais, em que duas das personagens principais - aliás, personagens não, pois os diretores afastam-se deliberadamente das personagens psicológicas da dramaturgia convencional, mas, sim, “atores-artistas”, ou “animais interrompidos”, na feliz definição de Alvaro Fagundes, que também participa do filme, protagonizando uma graciosa cena de balé a contra-luz – discutem a realização de um roteiro. Um roteiro que não se efetiva, não se realiza como “obra acabada”, e nem poderia, dado que o próprio filme é uma obra inacabada: “ainda não é o fim”, conforme se lê nos créditos finais. Não é o fim porque continua encarnado nos “atores-artistas” - que na última seqüência caminham em direção à câmera transpondo o seu limite, indicando que a coisa continua - cuja participação é “indispensável” (outra dica dos créditos) à idéia essencial abordada pelo filme: o próprio processo de criação, vivido e representado. Não o momento de materialização, de cristalização da idéia em obra fechada, mas sim aquele momento inefável, aquele fluxo que não se interrompe, aquele algo que não se captura, fugidio como notas num improviso musical (o paradoxo é apenas aparente, como a própria palavra inefável). A metáfora é o mar – ou talvez o mundo natural como um todo, “flagrado” em diversas tomadas (a Lagoa Rodrigo de Freitas, o Morro dos Cabritos, as amendoeiras e flamboyants que arborizam as ruas da Zona Sul ou um gato desconfiado que se esconde num canteiro de marias-sem-vergonha) -, entidade em permanente movimento, agindo independente e incessantemente; não se pode contê-lo; esmiuçar uma gota que seja do seu ser é perder o sentido de movimento, da força augusta e inelutável que o move. No entanto, pode-se “flagrá-lo” na intensidade do momento, fruir, sem possuir, sua beleza. O que se intui com o filme é uma ética substancial da própria materialidade, não há nenhum significado secreto aqui; o que conta, em última instância, é o próprio estar no mundo, e dever, de qualquer forma, interagir com ele; o espaço é realidade, é vivência. É esse o sentido da obra inacabada dos gêmeos: fluxo de criação, arte em construção.



Assim, a metalinguagem acompanha a câmera no percurso de três jovens artistas em conflito com o seu meio de expressão, vivendo seus “dias em branco”: um cineasta que não sabe o que enquadrar, um escritor sem sua musa e um pintor que não pinta há seis meses. Todos enfatizam “o nada”: não como ausência, mas um “nada substancializado” (a “parede branca”); o nada precondição e fulcro da criação; o nada verdade, vivido e representado, pedra angular da idéia essencial exposta acima. Esse é o nada que aparece no irônico poema de Cage que abre o filme, e é o mesmo buscado pelos irmãos Pretti em sua “obra inacabada” – quando, dizendo nada, se diz muito. Cinema que pensa, pensa-se e pensa o mundo. Parabéns, meus queridos artistas do nada.


João Duarte.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

três outras cenas do dias em branco

três momentos de solidão. eu gosto muito dessas cenas. principalmente a decupagem.








mais dias em branco

esse texto o ikeda escreveu na época em que o filme passou na mostra do filme livre. o texto fazia parte do catálogo.

“Eu ainda não me atrevo a ser alguém”
Dias em Branco, dos Irmãos Pretti

Selecionados por engano, Dias em Branco e O Primeiro Grito foram uma sessão-ilha dentro da Mostra do Filme Livre. Isolados no último dia do evento, disputando espaço com a premiação, foram solitários representantes do “alternativo dentro do alternativo”. Antípodas de Um Maluco em Copacabana, são trabalhos que indicam um cinema jovem na contramão dos cacoetes de um cinema alternativo. Propõem um trabalho austero de linguagem, de reavaliação das potencialidades da linguagem cinematográfica em expressar os sentimentos, expandindo os horizontes da narrativa clássica e examinando alternativas para seus personagens em crise. Com isso, dialogam com uma proposta contemporânea de dramaturgia, como os recentes filmes de Sofia Coppola e Vincent Gallo.

O Primeiro Grito é um filme de contenção. Logo após o longo plano-seqüência que abre o filme e que estabelece um mote, o curta estabelece um trabalho de contraposição entre os ambientes em expansão, que oferecem ao protagonista uma nova alternativa e a clausura de sua postura pessoal. Um “road movie” às avessas, filme de grande desterritorialização, de imersão aguda e ao mesmo tempo distante das motivações e dos sentimentos desse protagonista, o filme promove uma reavaliação do potencial do cinema em perseguir um íntimo, uma caminho interior. Seu deslocamento de si faz parte da proposta de provocar uma angústia: um não-estar lá.

Dias em Branco percorre o mesmo trajeto, mas faz um adendo metalinguístico: é sobre as angústias do artista em seu processo de criação. Processo esse que se confunde com sua vida rotineira, ou melhor, com uma vida não-vivida. Ou seja, um não-estar lá. Ao mesmo tempo, um humor atípico (autocrítico) e um desejo pela linguagem preenchem o filme, contrastando até com o rigor e a inércia de O Primeiro Grito. O humor naive, a tendência à autocrítica se misturam a um trabalho de grande afetividade, de um mergulho possível na intimidade partida desses jovens que buscam uma maneira de sobreviver. Com isso, busca-se um trabalho mais livre de expressão dos sentimentos, de compartilhamento de uma angústia, de uma reflexão sobre a possibilidade de uma alternativa e qual o papel do artista e do processo criativo diante disso. Diante de suas impossibilidades, a criação surge como desejo de expressão desse descompasso: um não-estar lá se confunde com um não-ser. A saída do absurdo da vida muitas vezes parece ser o cerne da criação artística: dizer o nada é uma forma de dizer, de expressar-se, de viver. A vida passa a ser um acúmulo de entremeios possíveis, um “tempo de espera possível”.
Dois filmes, em conjunto, que investigam novas possibilidades de expressão para o cinema, que se preocupam mais com as perguntas do que com as prontas respostas. Fora do gueto dos filmes-de-efeito, dos filmes-piada, ou dos cacoetes da dita produção alternativa, são mergulhos desiguais numa afetividade possível, reflexo de um deslocamento, de um tempo-espaço outro, trabalhos que prosseguem sendo incompreendidos, malditos, detestados, não-vistos. Quem não os viu nessa sessão da Mostra do Filme Livre provavelmente nunca mais os verá. Um cinema da solidão condenado a ser solitário.

Marcelo Ikeda

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

DIAS EM BRANCO










fizemos esse longa com alguns amigos. isso é talvez a afirmação mais contundente com relação a esse filme. esses amigos não tinham, e continuam não tendo, nada a ver com o fazer cinematográfico (a não ser em nossos filmes). esse filme é sobre a nossa amizade, uma amizade livre de qualquer interesse a não ser pelo de se encontrar e o de se estimular criativamente (intelectualmente). uma típica amizade jovem (talvez não tão típica). eu fico muito feliz em ver a maneira como todos se jogam pra fazer o filme aparecendo na frente da câmera, se colocando como criadores do filme junto com a gente.
em muitos momentos fica patente a nossa ingenuidade jovial que quer falar de coisas que a idade não parece permitir: jovens não são daquele jeito, não podem falar aquelas coisas, ninguém tem tanta crise assim nessa idade e assim por diante. talvez se fôssemos franceses seria mais fácil de aceitar esses jovens rssss.
um outro dado pertinente no filme é o de sermos burgueses, coisa que no cinema brasileiro é um pecado a não ser que você seja o domingos de oliveira ou faça comédias (vide walter hugo khouri). burgueses da zona sul carioca que (como disseram uma vez) deveriam conhecer a tijuca.
escrevo isso tudo pra dar uma idéia do que estava em jogo. acho que fica bastante claro o porquê da falta de interesse em nossos filmes. poderíamos dizer que eram filmes suicidas, mas para além disso, os filmes eram feitos com muita paixão, muito amor por cinema e uma incansável e inquieta vontade de se superar e de ir o mais fundo no que a gente tava fazendo.
o filme foi feito num clima de total descontração. íamos pras casas dos amigos e ficávamos batendo papo até chegar um momento que achávamos que estava bom pra filmar. e dessa forma o filme foi aos poucos se fazendo. queríamos fosse assim, pois o filme anterior (performance) tinha sido um estresse de produção (pelo menos pra gente).
o filme é sobre esses amigos, mas tem uma coisa engraçada que é que eles nunca conseguem se encontrar. só no final.
vamos postar algumas cenas que talvez sejam as mais interessantes, mas escolhemos elas por acreditar que elas mostram o que tem de mais instigante no que a gente faz. ainda gosto muito dessas cenas. quem viu "do diário de sem dias" do post anterior perceberá como os dois filmes tem muito a ver um com o outro. vemos até o mesmo buraco na sala.
também postaremos três texto que foram escritos sobre o filme. dois pelo ikeda e um pelo joão duarte.
por favor, sintam-se a vontade de comentar.