quinta-feira, 28 de agosto de 2008
DO DIÁRIO DE SEM DIAS
esse curta a gente fez como exercício para o longa "dias em branco" que fizemos logo depois desse aí.
a idéia era fazer tudo com a câmera na mão só que com movimentos autônamos. é claro que fica meio tosco, mas a gente queria isso mesmo. na época estávamos vendo sgenzerla na belair.
uma outra referência é o joão césar monteiro, desde que o conhecemos percebemos que o humor podia ser muito bem vindo no que a gente tava fazendo. o joão césar é sem dúvida uma das nossas maiores referências.
um curta despretensioso, mas com algumas investigações formais interessantes. eu gosto do uso das fotografias fixas, gosto também da intervenção no diafragma e da maneira como o som repentinamente sai de cena. outra coisa que eu gosto é a importância que a gente dá pra uma frigideira com óleo. o uso da música. a gente sempre tentou criar uma estrutura para logo em seguida quebrar com ela, o problema é que muitas vezes essa estrutura só estava nas nossas cabeças. isso acaba dificultando o entendimento do filme por parte do espectador.
tem mais coisas, mas deixo para os comentários.
luiz
terça-feira, 26 de agosto de 2008
Pílulas Praia do Futuro – um filme em episódios
Eu errei, você errou
Um filme sobre distâncias temporais e espaciais.
É noite e vemos a paisagem de uma cidade do ponto de vista de um avião (as luzes da cidade). Gertrude Stein disse que a invenção da paisagem cubista veio junto com a invenção da paisagem do avião. Aqui a paisagem do avião ganha uma outra forma: lágrimas de luz, melancolia e um sereno desespero.
É noite e escutamos uma carta de despedida amorosa do ponto de vista de uma garota (idealista, romântica) tomando o lugar da voz do capitão do avião. Neste momento o avião veste o papel de alegoria (ficção desajeitada): a voz faz parte da diegese do filme porque o avião é um reduto para o sentimento da garota.
Um filme adolescente por excelência.
Castelo de areia
O título já diz tudo, pois o que vemos é uma criança que tem o balde e a pá, mas não tem areia. Um filme que esconde muito por trás das aparências: um monstro secreto. O que me atinge mais nesse filme, a cada vez que eu o revejo, são os momentos de silêncio que existem entre uma fala da garota e uma da mãe ou do pai, pois estes silêncios me revelam um grande vazio: o da família e o do lazer da família. É como se ele fosse uma nota escura do Weekend do Godard. Talvez o filme mais soturno do Praia do Futuro, por incrível que isso possa parecer. O uso da câmera amadora me parece muito justa porque tem uma clara construção e um percurso específico que ela deve percorrer, não é uma curiosidade exótica (esteticista) dos realizadores e muito menos uma exploração barata do suporte.
Pedra
O que uma paisagem esconde? O desespero de uma mãe e a grandiosidade da indiferença do mundo. Este filme contém uma mise en scène fria e mecânica pra falar de um dos sentimentos mais difíceis da mulher: a perda de um filho. Como achar a forma justa? Através da oposição. Só pela oposição é possível equilibrar um sentimento tão forte e maior que tudo. Só pela oposição é possível fugir das ridículas representações de desespero que o cinema tantas vezes já tentou e consequentemente fracassou. Por isso, a paisagem está indiferente, o casal na praia está indiferente, o pescador está indiferente, a câmera está indiferente, o mundo está indiferente. Mas existe uma esperança (perversa, é claro) de que algo deve acontecer. E acontece: a morte. A câmera continua indiferente à mãe, mas acha o seu lugar com o filho morto (num belíssimo e terrível zoom). Um filme de terror por excelência.
Pequena grande história
Da humanidade, mas também do cinema. Decupagem rara de se ver pela sua mobilidade exata, onde estamos sempre onde precisamos estar. Quem é o narrador dessa história? A terra, o homem, o mar, a jumenta, o céu e o homem novamente. Como conseguir unir tantos pontos de vista? Contando com o milagre. É aí que reside a beleza do filme. Ele vai até o limite do cinema, pois acredita na possibilidade desse milagre, com elipses maravilhosas que lembram a famosa elipse do Mocidade de Lincoln e com um uso do fora de campo que abarca tudo, até uma sereia. O filme termina numa nota irônica (de um jeito que só o cinema de invenção consegue) e muito triste simultaneamente. O milagre está cada vez mais difícil, o cinema não é capaz de explodir a humanidade, nem hollywood.
Valores imaginários
Este filme é meu, portanto apenas direi uma coisa.
É um filme imerso em contradição.
Banho de sol para dinossauros
Um diário de viagem. Um filme de amor como Antes do Amanhecer. Um filme de texturas e camadas. Busca por novas formas de relacionar imagens, de tornar o significante plural e aberto (heterogêneo). Todas as relações são possíveis se você está disposto a dançar pelado. O filme dança pelado e convida o espectador a dançar pelado: a entrar num ritual de pele e enigma. E os dinossauros? Eu juro que vi eles dançando também.
Já era tempo
Um filme-esboço a procura de mulheres incríveis. Almodóvar tropical. Um filme que se sustenta em momentos icônicos como o bolo que sugere um melodrama ou o sapato que evoca o desespero de duas mulheres, uma que quer se libertar e outra que deseja se aprisionar. Um filme aberto, sem necessidade de narrativa, pois deposita os sentimentos e os percursos das personagens em pequenos movimentos pontuados por ótimas músicas.
Vídeo (2008)
O filme começa com um ruído branco em cima da imagem do garoto vendado no mar e termina em silêncio em cima de uma imagem branca nos mostrando que a relação da imagem com o som não é tão fácil e natural quanto estamos acostumados. O que vemos é muito pouco, quase invisível, pois quase não há movimento, mas ao mesmo tempo tem muito movimento sendo que se frisarmos a imagem veremos quase nada também (apenas a impressão de um movimento). O que escutamos é a voz doce do realizador que nos engana: sarcástico, grave, irônico e grave novamente. Mas também escutamos sons achados no mundo (virtual) que quase nada dizem como a imagem criando uma sincronia inesperada e difícil de perceber. Um filme que desafia, que escolhe o caminho perigoso do terceiro mundo: divino e maravilhoso.
Aprenda a nadar
Um estudo sobre eqüidistância (e a dificuldade de atingi-la). Um filme sem história que pensa a narrativa. A praia como um palco com dois personagens alienados e deslocados, vide a expressão corporal. Se desse pra controlar a luz do sol é um filme que poderia ser feito quase sem cortes, pois é a mudança de luz que conduz a narrativa e neste sentido um filme que deve muito ao teatro. Mas também deve ao cinema de Bressane que re-significa o mar pelo uso do som alheio. É muito bonito poder perceber o movimento das ondas.
Depois do fim
A cada revisão eu vejo um outro filme. Este filme nos abre a porta da percepção. Força-nos a abrir bem os olhos. O olhar se torna o agente de construção. Quem se dispõe a trabalhar vai encontrar mil e uma possibilidades de encontros e desencontros. Quem se dispõe a se jogar vai adentrar uma espessa e densa camada de sensações alucinadas. Um filme lisérgico por excelência: completamente aberto... pra quem se dispor.
Chama violeta
Filme místico onde a natureza emerge com toda a força para trazer luz aos nossos olhos e às nossas almas. Um filme panteísta. A fragmentação do corpo é muito evocativa para o lugar que o filme quer habitar. É uma beleza que vem de dentro e se espalha por todos os cantos e para todos os lados sem distinção moral: um filme orgástico e dionisíaco. Um filme que faz amor com o mundo, a luz, a água e todo o resto.
p. f
Explosão do amor em imagem incontida. Um filme que resolve lindamente o abstrato com o figurativo trans-criando um sentimento vivo em imagem. Um filme sensorial que transborda a noção de quadro e borda para atingir um ápice, um amanhecer. Em muito me lembra o cinema experimental americano dos anos 60, especificamente o Fuses da Carolee Schneeman. Como o filme da americana, este filme se rejubila numa intimidade revelada, imortalizada.
Mar morto
Um vídeo-poema onde as imagens se ligam por vocação. Um filme sentimental e por isso imperfeito e incompleto, pois o sentimento ainda não está concluído, e nesse sentido um filme corajoso e verdadeiro. Onde o filme mais ganha, a meu ver, são nas soluções plásticas das imagens, onde existe muita qualidade pictórica. Uma qualidade de levitação.
Linha da pipa
Um filme que existe para dizer que a imagem não basta. Mas ao mesmo tempo pra dizer que é só através da imagem que é possível expressar tanta coisa, tanto sentimento. Uma câmera livre de tão presa. Um amor livre de tão preso.
Onde o tempo se perdeu
O registro da luz na praia, Fernando Catatau tocando guitarra e como os dois interagem às mudanças daquele cotidiano. Mas também um filme surfe por excelência. Um filme espontâneo construído na montagem. O filme termina num tom melancólico e solitário. Quando o tempo se perde, nós também nos perdemos.
Ricardo Pretti
Um filme sobre distâncias temporais e espaciais.
É noite e vemos a paisagem de uma cidade do ponto de vista de um avião (as luzes da cidade). Gertrude Stein disse que a invenção da paisagem cubista veio junto com a invenção da paisagem do avião. Aqui a paisagem do avião ganha uma outra forma: lágrimas de luz, melancolia e um sereno desespero.
É noite e escutamos uma carta de despedida amorosa do ponto de vista de uma garota (idealista, romântica) tomando o lugar da voz do capitão do avião. Neste momento o avião veste o papel de alegoria (ficção desajeitada): a voz faz parte da diegese do filme porque o avião é um reduto para o sentimento da garota.
Um filme adolescente por excelência.
Castelo de areia
O título já diz tudo, pois o que vemos é uma criança que tem o balde e a pá, mas não tem areia. Um filme que esconde muito por trás das aparências: um monstro secreto. O que me atinge mais nesse filme, a cada vez que eu o revejo, são os momentos de silêncio que existem entre uma fala da garota e uma da mãe ou do pai, pois estes silêncios me revelam um grande vazio: o da família e o do lazer da família. É como se ele fosse uma nota escura do Weekend do Godard. Talvez o filme mais soturno do Praia do Futuro, por incrível que isso possa parecer. O uso da câmera amadora me parece muito justa porque tem uma clara construção e um percurso específico que ela deve percorrer, não é uma curiosidade exótica (esteticista) dos realizadores e muito menos uma exploração barata do suporte.
Pedra
O que uma paisagem esconde? O desespero de uma mãe e a grandiosidade da indiferença do mundo. Este filme contém uma mise en scène fria e mecânica pra falar de um dos sentimentos mais difíceis da mulher: a perda de um filho. Como achar a forma justa? Através da oposição. Só pela oposição é possível equilibrar um sentimento tão forte e maior que tudo. Só pela oposição é possível fugir das ridículas representações de desespero que o cinema tantas vezes já tentou e consequentemente fracassou. Por isso, a paisagem está indiferente, o casal na praia está indiferente, o pescador está indiferente, a câmera está indiferente, o mundo está indiferente. Mas existe uma esperança (perversa, é claro) de que algo deve acontecer. E acontece: a morte. A câmera continua indiferente à mãe, mas acha o seu lugar com o filho morto (num belíssimo e terrível zoom). Um filme de terror por excelência.
Pequena grande história
Da humanidade, mas também do cinema. Decupagem rara de se ver pela sua mobilidade exata, onde estamos sempre onde precisamos estar. Quem é o narrador dessa história? A terra, o homem, o mar, a jumenta, o céu e o homem novamente. Como conseguir unir tantos pontos de vista? Contando com o milagre. É aí que reside a beleza do filme. Ele vai até o limite do cinema, pois acredita na possibilidade desse milagre, com elipses maravilhosas que lembram a famosa elipse do Mocidade de Lincoln e com um uso do fora de campo que abarca tudo, até uma sereia. O filme termina numa nota irônica (de um jeito que só o cinema de invenção consegue) e muito triste simultaneamente. O milagre está cada vez mais difícil, o cinema não é capaz de explodir a humanidade, nem hollywood.
Valores imaginários
Este filme é meu, portanto apenas direi uma coisa.
É um filme imerso em contradição.
Banho de sol para dinossauros
Um diário de viagem. Um filme de amor como Antes do Amanhecer. Um filme de texturas e camadas. Busca por novas formas de relacionar imagens, de tornar o significante plural e aberto (heterogêneo). Todas as relações são possíveis se você está disposto a dançar pelado. O filme dança pelado e convida o espectador a dançar pelado: a entrar num ritual de pele e enigma. E os dinossauros? Eu juro que vi eles dançando também.
Já era tempo
Um filme-esboço a procura de mulheres incríveis. Almodóvar tropical. Um filme que se sustenta em momentos icônicos como o bolo que sugere um melodrama ou o sapato que evoca o desespero de duas mulheres, uma que quer se libertar e outra que deseja se aprisionar. Um filme aberto, sem necessidade de narrativa, pois deposita os sentimentos e os percursos das personagens em pequenos movimentos pontuados por ótimas músicas.
Vídeo (2008)
O filme começa com um ruído branco em cima da imagem do garoto vendado no mar e termina em silêncio em cima de uma imagem branca nos mostrando que a relação da imagem com o som não é tão fácil e natural quanto estamos acostumados. O que vemos é muito pouco, quase invisível, pois quase não há movimento, mas ao mesmo tempo tem muito movimento sendo que se frisarmos a imagem veremos quase nada também (apenas a impressão de um movimento). O que escutamos é a voz doce do realizador que nos engana: sarcástico, grave, irônico e grave novamente. Mas também escutamos sons achados no mundo (virtual) que quase nada dizem como a imagem criando uma sincronia inesperada e difícil de perceber. Um filme que desafia, que escolhe o caminho perigoso do terceiro mundo: divino e maravilhoso.
Aprenda a nadar
Um estudo sobre eqüidistância (e a dificuldade de atingi-la). Um filme sem história que pensa a narrativa. A praia como um palco com dois personagens alienados e deslocados, vide a expressão corporal. Se desse pra controlar a luz do sol é um filme que poderia ser feito quase sem cortes, pois é a mudança de luz que conduz a narrativa e neste sentido um filme que deve muito ao teatro. Mas também deve ao cinema de Bressane que re-significa o mar pelo uso do som alheio. É muito bonito poder perceber o movimento das ondas.
Depois do fim
A cada revisão eu vejo um outro filme. Este filme nos abre a porta da percepção. Força-nos a abrir bem os olhos. O olhar se torna o agente de construção. Quem se dispõe a trabalhar vai encontrar mil e uma possibilidades de encontros e desencontros. Quem se dispõe a se jogar vai adentrar uma espessa e densa camada de sensações alucinadas. Um filme lisérgico por excelência: completamente aberto... pra quem se dispor.
Chama violeta
Filme místico onde a natureza emerge com toda a força para trazer luz aos nossos olhos e às nossas almas. Um filme panteísta. A fragmentação do corpo é muito evocativa para o lugar que o filme quer habitar. É uma beleza que vem de dentro e se espalha por todos os cantos e para todos os lados sem distinção moral: um filme orgástico e dionisíaco. Um filme que faz amor com o mundo, a luz, a água e todo o resto.
p. f
Explosão do amor em imagem incontida. Um filme que resolve lindamente o abstrato com o figurativo trans-criando um sentimento vivo em imagem. Um filme sensorial que transborda a noção de quadro e borda para atingir um ápice, um amanhecer. Em muito me lembra o cinema experimental americano dos anos 60, especificamente o Fuses da Carolee Schneeman. Como o filme da americana, este filme se rejubila numa intimidade revelada, imortalizada.
Mar morto
Um vídeo-poema onde as imagens se ligam por vocação. Um filme sentimental e por isso imperfeito e incompleto, pois o sentimento ainda não está concluído, e nesse sentido um filme corajoso e verdadeiro. Onde o filme mais ganha, a meu ver, são nas soluções plásticas das imagens, onde existe muita qualidade pictórica. Uma qualidade de levitação.
Linha da pipa
Um filme que existe para dizer que a imagem não basta. Mas ao mesmo tempo pra dizer que é só através da imagem que é possível expressar tanta coisa, tanto sentimento. Uma câmera livre de tão presa. Um amor livre de tão preso.
Onde o tempo se perdeu
O registro da luz na praia, Fernando Catatau tocando guitarra e como os dois interagem às mudanças daquele cotidiano. Mas também um filme surfe por excelência. Um filme espontâneo construído na montagem. O filme termina num tom melancólico e solitário. Quando o tempo se perde, nós também nos perdemos.
Ricardo Pretti
sábado, 23 de agosto de 2008
Praia do Futuro
Galera,
Saiu uma matéria do caralho (por falta de palavra melhor) sobre o Praia do Futuro um filme em episódios na Revista Cinética escrita pelo crítico Francis Vogner dos Reis.(http://www.revistacinetica.com.br/praiadofuturo.htm).
Vale muito a pena dar uma olhada.
Fico muito contente com esse filme estar possibilitando e alimentando essas discussões sobre cinema.
Pra quem não viu ainda tem um texto também do caralho escrito pelo cineasta e crítico Marcelo Ikeda (http://cinecasulofilia.blogspot.com/search?q=praia+do+futuro) abordando várias questões que o Praia do Futuro coloca.
Agradecemos aos dois!
E que venham mais impressões tornando o praia do futuro num labirinto de subjetividades e concreto (como tão bem colocou Francis).
Saiu uma matéria do caralho (por falta de palavra melhor) sobre o Praia do Futuro um filme em episódios na Revista Cinética escrita pelo crítico Francis Vogner dos Reis.(http://www.revistacinetica.com.br/praiadofuturo.htm).
Vale muito a pena dar uma olhada.
Fico muito contente com esse filme estar possibilitando e alimentando essas discussões sobre cinema.
Pra quem não viu ainda tem um texto também do caralho escrito pelo cineasta e crítico Marcelo Ikeda (http://cinecasulofilia.blogspot.com/search?q=praia+do+futuro) abordando várias questões que o Praia do Futuro coloca.
Agradecemos aos dois!
E que venham mais impressões tornando o praia do futuro num labirinto de subjetividades e concreto (como tão bem colocou Francis).
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
AVANTE A REVOLUÇÃO
um filme do nosso grande amigo Leo Marona sobre o bar pires que fica em frente à puc (universidade para os que não têm medo de morrer pobre rrss). nós o acompanhamos na filmagem e editamos também. o Álvaro Fagundes, outro grande amigo nosso é o narrador dos textos do Leo. bebemos muito nessa época vodka e conhaque. um filme de entrega e imersão com muito senso de humor. aproveitem.
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
IVONE
Parte 1
Parte 2
A Ivone poderia ser o par perfeito para o amador, mas eles provavelmente nunca irão se encontrar.
Fizemos esse filme inspirados num conto da Natércia Pontes. O que mais gostamos nele é o trabalho com a atriz, que resultou muito bem. Talvez a melhor coisa que já fizemos nesse sentido.
A câmera também tem um papel muito importante nesse curta. Na época era importante que ela tivesse liberdade com relação à ação. Porém o que mais me impressiona hoje em dia é movimento que ela faz no terceiro e último plano do filme (parte 2). Acho interessante fazer uma relação com o último plano do Amador (o zoom). Duas formas de aproximação distintas, mas que nos faz pensar na sempre complexa relação entre câmera e ator.
TÃO LONGE TÃO PERTO!
O ponto fraco do filme é a fotografia. A relação claro/escuro que prevalece na luz não ficou bem realizada. Inclusive, é bom avisar que o filme é escuro mesmo (principalemente o começo da segunda parte).
Parte 2
A Ivone poderia ser o par perfeito para o amador, mas eles provavelmente nunca irão se encontrar.
Fizemos esse filme inspirados num conto da Natércia Pontes. O que mais gostamos nele é o trabalho com a atriz, que resultou muito bem. Talvez a melhor coisa que já fizemos nesse sentido.
A câmera também tem um papel muito importante nesse curta. Na época era importante que ela tivesse liberdade com relação à ação. Porém o que mais me impressiona hoje em dia é movimento que ela faz no terceiro e último plano do filme (parte 2). Acho interessante fazer uma relação com o último plano do Amador (o zoom). Duas formas de aproximação distintas, mas que nos faz pensar na sempre complexa relação entre câmera e ator.
TÃO LONGE TÃO PERTO!
O ponto fraco do filme é a fotografia. A relação claro/escuro que prevalece na luz não ficou bem realizada. Inclusive, é bom avisar que o filme é escuro mesmo (principalemente o começo da segunda parte).
Mais sobre amador
Um texto que o Ikeda escreveu sobre o filme pra uma lista de dez melhores curtas em seu blogue. O texto é pequeno, mas fala muito mais do filme que eu conseguiria em dez páginas.
2 - Amador, de Luiz Pretti
A primeira vez que vi um filme dos Irmãos Pretti (foi em Estética da Solidão) eu descobri um mundo, eu vi a possibilidade de fazer trabalhos intimistas com os recursos que eram possíveis. Era um cinema impossível com o que era possível. Em Amador todo o cinema dos gêmeos está lá: os planos extremamente alongados, essa visão do enorme vazio das coisas, essa dificuldade de dizermos uma palavra uns aos outros, esse enorme rigor com o quadro e com o tempo e esse eterno relaxamento com as aparências, porque o que importa, sempre, é a essência das coisas, mas ela é sempre fugidia e imperfeita. O título, extraordinário, é uma declaração de princípios sobre tudo o que está em jogo: o cinema amador, o amor e a dor. O filme, de cortante simplicidade, revela esse enorme abismo de meio metro entre a vida, a criação, o outro e a liberdade plena.
2 - Amador, de Luiz Pretti
A primeira vez que vi um filme dos Irmãos Pretti (foi em Estética da Solidão) eu descobri um mundo, eu vi a possibilidade de fazer trabalhos intimistas com os recursos que eram possíveis. Era um cinema impossível com o que era possível. Em Amador todo o cinema dos gêmeos está lá: os planos extremamente alongados, essa visão do enorme vazio das coisas, essa dificuldade de dizermos uma palavra uns aos outros, esse enorme rigor com o quadro e com o tempo e esse eterno relaxamento com as aparências, porque o que importa, sempre, é a essência das coisas, mas ela é sempre fugidia e imperfeita. O título, extraordinário, é uma declaração de princípios sobre tudo o que está em jogo: o cinema amador, o amor e a dor. O filme, de cortante simplicidade, revela esse enorme abismo de meio metro entre a vida, a criação, o outro e a liberdade plena.
sábado, 16 de agosto de 2008
AMADOR
Primeiro filme que postamos é um curta que ao nosso ver diz bastante do que a gente estava querendo na época. É um filme bem simples que tenta traçar um personagem um tanto auto-bigráfico, mostrando bem a nossa postura com relação à vida. Como todos os nossos filmes esse também foi feito sem nenhuma grana que não fosse do nosso próprio bolso, revelando uma das razões do título e mais a acertada citação do Rô ao Satie. Abaixo está o texto que ele escreveu sobre o filme.
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
Amador
Por Luiz Rosemberg Filho
“A paixão pela destruição é eminentemente construtiva”
Bakunin
Observar o conflito sem o submeter aos argumentos da razão que tudo tenta explicar. Aos irmãos Luiz e Ricardo Preti interessa trabalhar o silêncio, a dor, a solidão e o amor. E se tudo se torna difícil, o belo se transforma não no uso da injustiça no mundo, mas na riqueza de administrarmos um outro olhar além das definições globalizantes da razão. Aqui o “Ama-a-dor” é uma espécie de “animal” enjaulado na sua descrença das tantas e tantas simplificações muito convenientes à política dos Partidos, mas não às múltiplas demonstrações de vida da alma humana.
Ora, o que simboliza o gesto, ou os gestos que se indefinem nas imagens de um curta-metragem autoral? Numa análise imediata da percepção do outro, pouco importa uma só interpretação quando a representação passa pelo silêncio que também nada explica, e se permite banhar numa possível desarmonia poética. Em 1961, Ezra Pound disse: “não entrei em silêncio. O silêncio tomou conta de mim”. Ora, também o “Amador” passa seu tempo-real não se camuflando na realeza do saber, mas perdido criativamente entre sonhos e seus pensamentos. E embora pesado como idéia (pois nos obriga a pensar, no fundo), é extremamente leve como fragmentos de situações rotineiras. E no que não explica absolutamente nada, torna-se excessivamente próximo e humano. O “novo” ser contemporâneo substitui o não-fazer revolução alguma, para ser ou não a própria revolução. E longe da firmeza dos discursos, que pouco ou nada dizem, a incerteza de um tempo de linguagem.
Ali uma “nova” história que se repete. Ontem, foi a infância pacífica sobre grandes vôos. Talvez a casa seja a primeira jaula das nossas vidas. E, entre as grades, a vida que corre lá fora. Ontem se foi bolchevista, stalinista, comunista... Hoje uma recusa-pensada às restrições e reivindicações vazias de sentido. O sonho como revolta não se transformou numa plena emancipação do saber. Basta observar “filmes” como “Cidade de Deus”, “Diário de Motocicleta”, “Irma Vap”, “Cazuza” etc. E, abandonados na tragédia do mercado, nada mais se justificou. Ora, justificar o quê se tudo se repete sem importância alguma? Presente, passado e futuro do nada. Que está fora e está dentro de cada um.
O “Amador” tenta entender as suas raízes num filme italiano na TV. A legitimação está na história que já vai longe. A sensualidade jovem cedeu a queixa sobre a estagnação do tempo. Ora, como entender a não-dança das idéias? Ah, a razão perdida! Atenção ao não-movimento interno. Quem fala é a TV. Não o personagem mudo e atento. A saída da retratação-simbólica passa pela mesa envolvida pelo silêncio. Um copo, um prato, uma faca, uma garrafa de vinho, uma cesta de frutas e uma reprodução de Cèzanne das frutas na parede de fundo. Aproximações e diferenças da TV para Cèzanne, passando por Baco. Nem mágoa, nem crueldade – apenas o tempo que leva o personagem para a escuridão que se prolonga como linguagem. A tela escura como expressão do seu cotidiano.
Chega-se então ao jornal. A uma história sem subjetividades. Ora, para que servem os jornais? Para uma apropriação indevida do tempo dos outros, pois nunca informam nada. Formam políticos, marginais e prostitutas. Ou seja, já nasce capenga como referência. E vendem o quê? O nada. Sentado olhando para a sua jaula, o personagem do “Amador” nada vê. Entre móveis e o espaço da jaula-casa, o vazio. É assim. Foi sempre assim. Então a janela. Lá fora o mal-estar da cidade moderna. Um adeus com o jovem personagem dizendo: “Eu te amo”. De costas para o quadro, mas diante de um instrumento musical, procura notas de uma melodia que lembra Satie.
Sentado à mesa no fundo do corredor, o personagem pensa e, mais próximo, volta a repetir no telefone o “Eu te amo”. Amor distante e obscuro. O outsider substancia a sua exclusão da vida que ocorre na cidade. A cidade adequadamente adaptada ao senso comum: prédios, carros e pessoas que passam de um lado para o outro. Uma servidão voluntária à repetição. Mas se o dia passa no vazio da nação, a noite repete as reviravoltas do nada onde o caráter de diversões apenas repete o culto da ideologia dominante do espetáculo para todos. Ou seja, o tempo como substância e justificativa do vazio. E assim chegamos à personagem do “Amador”, andando de um lado para o outro, tentando escrever alguma coisa que não será lida ou vista.
Por fim, a flauta quase que como lamento convulsivo, numa experiência maior do mundo. Talvez uma transposição do que estava sendo escrito anteriormente. Talvez um rompimento com o silêncio obrigatório. Talvez uma ruptura com a passividade, visto que a boa música se desfaz na intimidade, no âmbito da mercadoria. A sua força é mágica e passa por outros registros. E tocada por um “Ama-a-dor” torna-se uma aprendizagem de abstrações e percepções, sem tradução possível. Ou seja, ao não identificar nada que possa ser usado pelos baixos interesses do capital, o “Amador” torna-se mais humano, mais profundo e mais confiável como uma doce manifestação amorosa para o Cinema. Cinema-reconhecimento. Cinema-subjetivo. Cinema-sonho, Cinema-vida. Cinema-cinema.... Parabéns aos realizadores.
“A paixão pela destruição é eminentemente construtiva”
Bakunin
Observar o conflito sem o submeter aos argumentos da razão que tudo tenta explicar. Aos irmãos Luiz e Ricardo Preti interessa trabalhar o silêncio, a dor, a solidão e o amor. E se tudo se torna difícil, o belo se transforma não no uso da injustiça no mundo, mas na riqueza de administrarmos um outro olhar além das definições globalizantes da razão. Aqui o “Ama-a-dor” é uma espécie de “animal” enjaulado na sua descrença das tantas e tantas simplificações muito convenientes à política dos Partidos, mas não às múltiplas demonstrações de vida da alma humana.
Ora, o que simboliza o gesto, ou os gestos que se indefinem nas imagens de um curta-metragem autoral? Numa análise imediata da percepção do outro, pouco importa uma só interpretação quando a representação passa pelo silêncio que também nada explica, e se permite banhar numa possível desarmonia poética. Em 1961, Ezra Pound disse: “não entrei em silêncio. O silêncio tomou conta de mim”. Ora, também o “Amador” passa seu tempo-real não se camuflando na realeza do saber, mas perdido criativamente entre sonhos e seus pensamentos. E embora pesado como idéia (pois nos obriga a pensar, no fundo), é extremamente leve como fragmentos de situações rotineiras. E no que não explica absolutamente nada, torna-se excessivamente próximo e humano. O “novo” ser contemporâneo substitui o não-fazer revolução alguma, para ser ou não a própria revolução. E longe da firmeza dos discursos, que pouco ou nada dizem, a incerteza de um tempo de linguagem.
Ali uma “nova” história que se repete. Ontem, foi a infância pacífica sobre grandes vôos. Talvez a casa seja a primeira jaula das nossas vidas. E, entre as grades, a vida que corre lá fora. Ontem se foi bolchevista, stalinista, comunista... Hoje uma recusa-pensada às restrições e reivindicações vazias de sentido. O sonho como revolta não se transformou numa plena emancipação do saber. Basta observar “filmes” como “Cidade de Deus”, “Diário de Motocicleta”, “Irma Vap”, “Cazuza” etc. E, abandonados na tragédia do mercado, nada mais se justificou. Ora, justificar o quê se tudo se repete sem importância alguma? Presente, passado e futuro do nada. Que está fora e está dentro de cada um.
O “Amador” tenta entender as suas raízes num filme italiano na TV. A legitimação está na história que já vai longe. A sensualidade jovem cedeu a queixa sobre a estagnação do tempo. Ora, como entender a não-dança das idéias? Ah, a razão perdida! Atenção ao não-movimento interno. Quem fala é a TV. Não o personagem mudo e atento. A saída da retratação-simbólica passa pela mesa envolvida pelo silêncio. Um copo, um prato, uma faca, uma garrafa de vinho, uma cesta de frutas e uma reprodução de Cèzanne das frutas na parede de fundo. Aproximações e diferenças da TV para Cèzanne, passando por Baco. Nem mágoa, nem crueldade – apenas o tempo que leva o personagem para a escuridão que se prolonga como linguagem. A tela escura como expressão do seu cotidiano.
Chega-se então ao jornal. A uma história sem subjetividades. Ora, para que servem os jornais? Para uma apropriação indevida do tempo dos outros, pois nunca informam nada. Formam políticos, marginais e prostitutas. Ou seja, já nasce capenga como referência. E vendem o quê? O nada. Sentado olhando para a sua jaula, o personagem do “Amador” nada vê. Entre móveis e o espaço da jaula-casa, o vazio. É assim. Foi sempre assim. Então a janela. Lá fora o mal-estar da cidade moderna. Um adeus com o jovem personagem dizendo: “Eu te amo”. De costas para o quadro, mas diante de um instrumento musical, procura notas de uma melodia que lembra Satie.
Sentado à mesa no fundo do corredor, o personagem pensa e, mais próximo, volta a repetir no telefone o “Eu te amo”. Amor distante e obscuro. O outsider substancia a sua exclusão da vida que ocorre na cidade. A cidade adequadamente adaptada ao senso comum: prédios, carros e pessoas que passam de um lado para o outro. Uma servidão voluntária à repetição. Mas se o dia passa no vazio da nação, a noite repete as reviravoltas do nada onde o caráter de diversões apenas repete o culto da ideologia dominante do espetáculo para todos. Ou seja, o tempo como substância e justificativa do vazio. E assim chegamos à personagem do “Amador”, andando de um lado para o outro, tentando escrever alguma coisa que não será lida ou vista.
Por fim, a flauta quase que como lamento convulsivo, numa experiência maior do mundo. Talvez uma transposição do que estava sendo escrito anteriormente. Talvez um rompimento com o silêncio obrigatório. Talvez uma ruptura com a passividade, visto que a boa música se desfaz na intimidade, no âmbito da mercadoria. A sua força é mágica e passa por outros registros. E tocada por um “Ama-a-dor” torna-se uma aprendizagem de abstrações e percepções, sem tradução possível. Ou seja, ao não identificar nada que possa ser usado pelos baixos interesses do capital, o “Amador” torna-se mais humano, mais profundo e mais confiável como uma doce manifestação amorosa para o Cinema. Cinema-reconhecimento. Cinema-subjetivo. Cinema-sonho, Cinema-vida. Cinema-cinema.... Parabéns aos realizadores.
terça-feira, 12 de agosto de 2008
Aqui iremos postar cenas de filmes e curtas que fizemos e que vêm ocupando as nossas vidas há oito anos. Estes filmes, na sua maioria, foram muito pouco exibidos e por isso queremos revisitá-los e dar a chance das pessoas interessadas conhecerem o nosso trabalho.
Além dos filmes, estaremos postando textos sobre filmes (e cinema) ou sobre qualquer outro assunto que nos esteja obcecando.
Agradecemos ao nosso grande amigo Pedro Estarque por ter nos aberto os olhos para a importância de um blogue como este.
Além dos filmes, estaremos postando textos sobre filmes (e cinema) ou sobre qualquer outro assunto que nos esteja obcecando.
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